Muita Luz Para a Sua Vida!!!

Muita Luz Para a Sua Vida!!!
Luz*Paz*Sucesso

quarta-feira, 5 de maio de 2010

UM RELATO




Norberto


Como foi sua entrada no sistema? Qual foi a sensação?
Bom, vou relatar primeiro a minha primeira entrada. Eu tive uma passagem que a gente pode considerar longa, mas em vista de outras pessoas pode considerar até curta: na primeira passagem minha na casa de detenção, eu fiquei na faixa de dois anos e oito meses, e mais uns oito meses no semi-aberto – daria mais ou menos uns três anos e pouco. Essa foi minha primeira passagem e eu acredito que não houve mudança em relação a me afastar da criminalidade.
Posteriormente voltei a cometer outras infrações, e eu acho que a minha transformação… ela se iniciou não vou dizer que foi no presidio. Eu acho que ela teve um pequeno início já em liberdade, porque a partir de determinado momento que eu já estava condenado e estava sendo procurado, aí eu realmente parei de delinqüir. Então eu sobrevivi trabalhando em frente a subúrbio, eu não estava mais tendo vínculo nenhum com a criminalidade. Num determinado dia eu fui preso. Pela segunda vez, eu fui para a casa de detenção. Bom, eu ainda tinha um vínculo porque este vínculo não acaba – eu acho que o compromisso, aquele compromisso moral seu nunca vai acabar. Hoje, graças a Deus, eu estou fora, não pratico mais coisas erradas, mas meu compromisso moral vai continuar para o resto da vida. Nessa segunda passagem minha tem uma parte muito interessante: eu estava na casa de detenção e passei um longo período trabalhando no setor de bola, eu praticamente já era um homem regenerado.
Agora a transformação maior se deu um dia quando eu vi uma placa de exame de suplência. Nisso já faziam quatro dias que eu estava no pavilhão, então ocorreu uma grande mudança na minha vida: a partir daí minha vida foi mudando, eu comecei a freqüentar a escola, e essa escola dava aulas de supletivo do primeiro grau. Eu fiz a inscrição, participei dos exames e, a partir daí, foi tudo mudando. Eu fui aprovado, concluí o primeiro grau, fui convidado para trabalhar na escola e comecei a trabalhar na escola. Então eu acredito que essa placa me ajudou muito a mudar e aí, de acordo com o acontecimento, comecei a trabalhar na escola, fiz o segundo grau, com a graça de Deus.
Outra coisa que influencia demais é o presídio em que você vai. Eu tive a felicidade de ir para um presidio-modelo, fui transferido para uma penitenciária-modelo: Pirajuí. Lá, a gente teve a oportunidade de trabalhar numa metalúrgica depois de um período de prova. Porque quando você chega, você não vai direto para a metalúrgica: você tem um período de prova em que você vai trabalhar em outros setores. Mas nem todo mundo tem essa felicidade de ir para um presidio-modelo. Então eu tive essa felicidade de ir para um presidio-modelo, trabalhei e tive toda essa transformação.
Depois eu fui para o semi-aberto também, fui para um semi-aberto que eu considero que me ajudou muito, cheguei a trabalhar em metalúrgica em outra cidade. Então tudo isso contribuiu para essa mudança, e a localidade ajudou muito também.
Qual foi a relação com a sua faminta nesse período? Você teve apoio deles?
Olha, a respeito da família, eu sou solteiro, mas minha família contribuiu muito, eles sempre me acompanharam. E eu acredito também que teve uma parte muito importante nessa história, nessa mudança: foi minha mãe. Eu acho que o mérito dessa mudança também é dela. Quando eu era mais jovem, eu não me preocupava tanto com ela, até pela idade. Depois que a gente percebe a idade da mãe da gente, vai se preocupando. Então a minha mãe também contribuiu demais, ela sempre me acompanhou quando pôde, porque depois houve um determinado momento que ela não podia fazer as visitas freqüentemente. Mas a minha mãe participou enormemente da minha mudança, minha mãe foi o ponto principal.
Você poderia falar a respeito do trabalho e preconceito sofrido, e sobre o Projeto Clareou, por favor?
A respeito de trabalho, logo de início, eu acho que vai da gente também. Quando você tem um propósito de estar se regenerando, partindo para uma vida melhor, eu acho que cabe um esforço também da pessoa. Eu sobrevivi todo esse tempo e tô sobrevivendo assim: ora tenho serviço fixo ora não tenho, mas eu nunca escolhi trabalho – geralmente os piores serviços que ninguém queria fazer e para ganhar o menor salário possível. Se a gente for escolher trabalho fica difícil. Mas muita coisa me ajudou também. Tem muitas pessoas que deixam o presídio e não têm a oportunidade que eu tive, porque eu tive familiares que me ajudaram, como meu cunhado que sempre me ajudou: ele me levava para fazer carretos e mudanças e isso gerava renda. Eu também fiz parte de frente de trabalho em 1999 e nunca escolhi trabalho.
O preconceito está estampado, isso eu não posso negar. Muita gente que volta a cometer novos delitos e volta para o crime, antes de fazer isso ele já pensou de todas as formas e não encontrou outro recurso, então ele acabou fazendo a besteira. Eu tentei de todas as formas, procurei aqui, procurei ali, tive oportunidades, inclusive de trabalhar no IBGE – com a graça de Deus, eles não tiveram o preconceito de estar barrando quem tinha antecedentes criminais – eu fiz parte do Censo 2000. Depois eu prestei concurso na prefeitura – já não tive a mesma sorte, porque houve um procurador que me barrou na prefeitura mesmo sendo concursado. Apesar do diretor da escola querer minha volta, não houve jeito de eu voltar, e eu tive a felicidade de encontrar pessoas que não eram do poder publico e me ajudaram. Outras pessoas que me ajudaram muito, e que eu acho que não têm preconceito, é o pessoal da educação.
Hoje em dia, eu trabalho numa escola e nessa escola eu iniciei fazendo prestação de serviços diários, trabalhava dez dias, trabalhava quinze dias e, de dois anos pra cá, eu estou trabalhando através de uma cooperativa com contrato e tudo direitinho. Eu estou sobrevivendo dessa maneira, eu não escolho serviço, faço qualquer serviço.
Quanto à Fundação, que eu também sou estagiário, eu fui convidado a trabalhar num projeto que está em andamento aqui na Fundação, e esse projeto visava capacitar egressos na área de informática. Eu fui convidado a fazer curso na área de capacitação e a gente teve a oportunidade de estar trabalhando com um certo número de egressos que se formaram, tiveram um conhecimento básico de informática. Eu aqui na Fundação também encontrei muito apoio. Pela Fundação eu fiz o cursinho da POLI, eu também fiz curso de pintura e meu vínculo com a Fundação já é um pouquinho antigo: eu trabalhei na casa de detenção como monitor de educação básica pela Fundação, trabalhei também em Pirajuí na indústria de móveis escolares com vínculo com a Fundação. Então o apoio que eu encontrei por parte de poder público foi na Fundação, já a outra parte do poder público me discriminou.

Deixe uma mensagem para todos os egressos e reeducandos (semi-aberto).

Eu gostaria que todos tivessem a oportunidade que eu
tive. Só que
tem um detalhe: a gente tem também que procurar se esforçar o
máximo possível,
procurar a escola, tentar fazer cursos, pensar numa
formação melhor e procurar
principalmente quem tem oportunidade, pensar uma,
duas, três, dez vezes e cem
mil vezes antes de fazer uma coisa errada. É
difícil, a justiça é super
complicada, então é tentar fazer de tudo para não
voltar a cometer delitos,
porque caiu na mão da justiça é triste. A justiça
realmente não é justa.

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