Muita Luz Para a Sua Vida!!!

Muita Luz Para a Sua Vida!!!
Luz*Paz*Sucesso

quarta-feira, 5 de maio de 2010

UM RELATO



Adalberto

Como foi sua entrada no sistema? Quando decidiu se regenerar? E qual foi a sensação?
Bom, sobre o primeiro instante que eu estive na prisão, que foi no Carandiru, no cumprimento de pena, o primeiro contato que eu tive com a FUNAP foi através da educação. Então, através da educação, eu comecei a ter envolvimento com coisas do sistema, eu comecei a observar que eu estava um período muito longo ali dentro, eu tinha que ter alguma coisa para fazer. E foi através da educação que eu comecei a abrir meus objetivos, tive bastante sonhos. E foi um período de dez anos que eu fiquei direto dentro do sistema prisional, aí depois veio o semi-aberto.
Mas dentro do regime fechado, uma das coisas melhores que tem lá é a educação, porque dentro das muralhas, a pessoa estando com saúde, a única coisa que vai ter de aproveito é a educação. O esporte é meio precário e um pouco perigoso porque o convívio lá dentro nunca se sabe no que vai dar: você vai se divertir, pode acabar arrumando uma briga ou confusão. Já na educação não havia isso: a gente ia para sala de aula, estudava, aprendia e desenvolvia, e não tinha perigo nenhum. Então foi nesse período do estudo que começou a abrir a minha mente e acabou nascendo o interesse de mudar de vida realmente, de não colocar mais minha vida em risco fazendo nada que seja ilegal.

Fale mais sobre o início de sua prisão, o que sentiu quando foi condenado.
Olha, essa parte de você estar recluso, de você perder sua liberdade, você começa a fazer uma leitura da sua vida, porque você tem muito tempo para isso. Então, no período que eu estava na cela, no período que eu estava no meu particular, à noite principalmente, a gente começa a pensar na família, em tudo que a gente fez e o arrependimento é natural, porque tudo que você faz que te prejudica você quer mudar. Então foi natural eu perceber que eu tinha ido por um caminho que deu tudo errado e que eu tinha que trilhar outro caminho. E como as opções dentro do sistema são muito poucas, primeiro foi a educação, e através dos estágios de educação eu comecei a fazer o primeiro grau. Aí as coisas foram se abrindo para mim, eu tive uma experiência muito próxima em relação à educação porque da própria FUNAP eu recebi vários cursos de capacitação, fui selecionado para dar aulas também e lecionei um bom período dentro do sistema penitenciário. E quando eu fui transferido do Carandiru para penitenciária, eu continuei com a FUNAP dando aula na penitenciária e isso favoreceu na minha liberdade: a juíza reduziu minha pena e me transferiu para o semi-aberto por eu ter alcançado esse mérito e ter me envolvido com a educação e ter participado para outros companheiros essa educação que eu estava recebendo.

Como reagiu sua família? Você era casado na época?
Todos os presos têm aquela necessidade de chegar no domingo e receber a visita de sua família, mas quando se tem uma pena um tanto quanto alta, a gente sabe também que a gente não pode sacrificar nossos familiares na rotina de estar todo fim de semana ali, passando aquelas humilhações que todo mundo conhece: a fila é longa, o estresse é muito grande ali, aquele sistema todo de revista… Período de fuga, rebelião, então, eu particularmente não cobrava visita, só assim em prazo de seis em seis meses, porque eu não queria sacrificar muito eles. E eu dentro do sistema tinha meu salário, vestimenta, então eu me destacava dos demais, eu não via motivo algum para estar expondo minha família a estas circunstâncias.

Você poderia falar a respeito do trabalho e preconceito sofrido, por favor?
Por eu ter passado bastante tempo no sistema, eu tive bastante tempo para observar os artesanatos que eram feitos lá dentro. Eu não fazia artesanato, eu era envolvido só com a educação, mas eu observava, eu fotografava na mente, eu olhava os detalhes dos trabalhos que eram feitos. Eu estou usando isso aqui fora porque emprego mesmo… há um preconceito muito grande. Porque nós estamos passando por uma crise que as pessoas que nunca assinaram nada, nunca tiveram problema com a justiça, já estão desempregadas. E hoje em dia os empresários preferem mais dar uma vaga a um cidadão que nunca cometeu nada do que um que já cometeu algo, e é uma incógnita, não sabe se ele vai trazer algum problema. E visando tudo isso eu fiz uma autonomia: hoje eu tenho uma oficina de trabalho artesanal, nós estamos trabalhando num projeto de outras oficinas familiares e o nosso projeto é que as pessoas e empresas que tenham contato com esse trabalho venham a querer absorver nossa mão-de-obra, para que eu também possa ter um espaço no mercado de trabalho. Porque se não houver encomendas e pessoas interessadas em comprar nosso material, a gente fica meio sem recurso.
Deixe uma mensagem para todos os egressos e reeducandos (semi-aberto).
A palavra que eu posso deixar para as pessoas que estão trilhando todo esse caminho que eu trilhei é que tenham esperança. E nós que estamos sofrendo a punição da justiça, e somente nós que sofremos todo erro que nós fizemos de violência e crime, sempre volta para nós mesmos. A punição é inevitável: a gente pode até escapar da justiça dos homens, mas da justiça de Deus ninguém escapa, porque Deus é justo e faz justiça. A pessoa que quer fazer uma nova oportunidade, ela tem que se superar e mudar o comportamento que tinha antes, tem que ter disciplina nas atitudes, nos pensamentos e investir nisso com fé. Porque hoje eu estou começando a ter o efeito dessas atitudes, hoje eu estou começando a colher esses frutos. E realmente vale a pena a gente trilhar o caminho do bem, da transformação, de reformar a vida e trabalhar bastante com muita força de vontade.
Para contratar os serviços de eletricista ou artesanato do Adalberto, entre em contato no telefone 6484-9363 (res.).

Nenhum comentário: